Sentir o peso das montanhas neste raro cobertor de lã, tecido com espessura
Sentir o peso das montanhas neste raro cobertor de lã, tecido com espessura.
Muito antes da era dos aquecedores eléctricos, dos pavimentos aquecidos e da globalização das fibras sintéticas, os pastores e as suas famílias envolviam-se em camadas de lã natural - tecidas com espessura, compactas para suportar o frio cortante das terras altas da Guarda (Beira Alta, Portugal) mas também no verão, pois "o que tapa o frio, tapa o calor".
Era o chamado Cobertor de Papa.
Ainda o é, porque a Associação O Genuíno Cobertor de Papa resgatou da extinção, há poucos anos, os utensílios e os segredos do seu fabrico. Tradicional, artesanal, espesso, impermeável, quente, de pêlo comprido, tecido num tear manual de madeira com cerca de 300 anos, o mais antigo do mundo.
Temos de agradecer a Céu Reis. Criou a associação e a sua oficina depois de a última fábrica da região - onde trabalhou durante 28 anos - ter fechado. O Alfredo, a Dulce e Rosa Baía (mãe da Céu), são, também, artesãos voluntários do cobertor de papa cujo
processo depende da sua cooperação e complementaridade, formando uma equipa. Rosa Baía conta com mais de 91 anos. A sua carreira de enchedeira e urdideira estende-se por oito décadas, desde que era uma criança de apenas 11 anos.
Pesado - sente-se o seu peso. Ou será o peso da história, das montanhas, dos invernos rigorosos? De qualquer forma, cheira um pouco ao vento, um pouco aos campos, um pouco a uma noite junto à lareira. Algumas pessoas usam-nos como arte. Outras como herança. Outras simplesmente dormem debaixo deles todas as noites, como faziam os seus avós.
E ainda é nos dias de hoje o fiel companheiro dos pastores que serve de farol para o rebanho, habituado ao seu padrão, segue-o instintivamente.